quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

ESPETINHO DE MORCEGO


. A alma do Cido morava na barriga. Felicidade, para o glutão, era forrar a pança com gostosuras.
. Queria abrir restaurante. Comeria do bom e do melhor, e além de rechear o bucho, entupia o cofre de grana. Nutria aquele sonho bobo do cara que compra sítio só porque adora frutas, embora ache que aquela fileirinha de vorazes formiguinhas faça parte da decoração do pomar.
. O plano do restaurante engordou quando conheceu as irmãs Lilica e Lazinha. Estava até de olho num prédio vazio. Arrumadinho, servia.
. Achou primeiro a Lilica. Ela sapeava uma lanchonete que, para o Cido, fazia o melhor hambúrguer do mundo.
. Lilica era jeitosa, sedutora e cheirosinha. Entre um hambúrguer e outro acabaram enrabichados. Cido passou a frequentar a casa da Lilica e lá estava a outra, a lasanha, ou melhor, a Lazinha. A garota, de visual chocho, era uma chicória de feira e estourava fácil, feito pipoca.
. Lilica, um quindim, tinha aspirado toda a beleza da família. Lazinha, linguiça mofada, havia herdado o resto. Não sobrara quase nada.
. Mas o almoço, gente do céu, era divino. Requintado e saboroso. Cido babava só de olhar. Grunhia de prazer, feito porquinho famélico. E tome estrogonofe, espaguete, toucinho, bacalhau, casquinha de siri.
. Lilica, a bela, sentadinha à mesa, beliscava feito passarinho. Lazinha, a fera, arrumava os pratos, botava talheres, fatiava lombinho e disputava, ávida, com o Cido, a sobremesa cremosa.
. Cido, coitado, se dividiu. Seu coração era cativo da Lilica, mas o estômago, escravo da Lazinha. Com a Lazinha no restaurante dos sonhos, a grana iria tinir. Era batata. O dilema dos órgãos o fez cozinhar o galo, indeciso.
. Por fim, escolheu a Lazinha, embora se sentisse uma beterraba sem cor em marmita requentada, vendo a Lilica escorregar feito quiabo na sopa da amargura. Parou de frequentar a casa e, traiçoeiro, passou a cortejar a eleita na esquina da lanchonete.
. Pediu-a em casamento. Na falta de lagosta, a megera aceitou prontamente a sardinha.
. Foi uma festança no capricho. Teve até caviar (fajuto). A lasanha, digo, a Lazinha era insossa, mas Cido esperou ansioso pelo primeiro almoço.
. Quase se afogou no caldeirão da bruxa. Viu morcego, aranha, lagarto.
. - Faço o que posso - rezingou Lazinha diante da comidinha intragável com gosto de Deus me livre - meu forte é a arrumação. Sei é botar pratos na mesa.
. E com a pachorra de mulher casada, completou.
. - Mão boa tem a Lilica. E é rápida. Apronta o almoço e acha tempo para ficar na frente do espelho se empetecando. Eu é que não consigo. Pena que não dá para filar almoço na casa da mãe. Lilica te odeia. Também pudera...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009