quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AS LIÇÕES DO BUDISMO

. Dizem no ocidente que os japoneses professam duas religiões harmonicamente: o xintoísmo e o budismo.
. Há um equívoco, se bem que sutil. Conversando com um japonês, fiquei sabendo que o budismo, em sua essência, não é considerado uma religião.
. De fato, Buda, venerando filósofo humanista, não é deus. Quanto ao xintoísmo, por imposição do general americano Douglas Mac Arthur, quando o Japão se rendeu na II Guerra Mundial, o imperador Hiroíto teve que abdicar da sua condicão de divinidade. Assim, o povo nipônico, embora preservando as tradições, é basicamente ateu em sua maioria.
. Mas o ministério budista é fascinante. Por exemplo, eles pregam que a felicidade é quando morre o avô, depois o pai, depois o filho, depois o neto. No início, não entendi. Mas eles infundem a ordem natural das coisas. Desgraça seria morrer o filho, depois o pai. Ou morrer o neto, depois o avô.
. O budismo nos ensina não apenas contemplar a natureza, mas assimilá-la, integrando-a à nossa existência.
. Numa escolinha primária, o diretor foi testar a percepção das criancinhas.
. - Quando fica bem frio, o que ocorre com a água? - perguntou.
. - Vira gelo - responderam.
. - E quando a neve derrete, o que acontece?
. - Vem a primavera! - exclamou um garotinho.
. Os japoneses comemoram a efêmera florada das cerejeiras. É o "hanami" (contemplação das flores).
. Quem conhece Bastos, no interior de São Paulo, minha cidade natal, pode em determinada época do ano visitar o clube de golfe local, fundado por japoneses e descendentes. É majestoso, com os ipês tingindo de amarelo as margens das pistas.
. Há uma lenda sobre um jardineiro japonês que cultivou dezenas de crisântemos. Quando desabrocharam, podou todos, exceto um, o mais belo, para exibi-lo aos visitantes.
. Os budistas conseguem incorporar a natureza que os envolve, formando um todo. Não observam, integram-se.
. É interessante. A idade vai modificando o nosso senso de observação. Um dia, ainda jovem, no Brasil, estava numa relojoaria quando vi uma senhora, já meio idosa, decidindo se comprava um colar de esmeraldas. "Fica bem?"- perguntava às amigas. Ela tinha um rosto sulcado de rugas, uma boca enorme e não era nem um pouco atraente. "De que adianta se adornar com esmeraldas, sendo tão desairosa?"- pensei na ocasião.
. Pois imaginem que, por ser feia, a mulher desistisse de se enfeitar, andasse descabelada e maltrapilha. Seria asquerosa e sua proximidade causaria repulsa e mal-estar.
. Idoso, acredito hoje que não importa o aspecto inato de uma pessoa. É obrigação de cada um de nós cuidarmos da aparência com esmero e decência.
. Em suma, a senhora enrugada merecia ostentar o colar de esmeraldas.
. É o que apregoa o budismo.

Um comentário:

Elenita disse...

Evoé, Yoshimaro!
Que feliz estou por agora ter seus belo e profundo texto disponível na internet.
Vida longa e feliz a seu blog!
Abraço apertado, com carinho.

Elenita Monteiro