segunda-feira, 20 de outubro de 2008

UM PAÍS QUE RENASCEU

. Os "experts" japoneses de música enunciam com profundo respeito, por extenso, o nome de Antônio Carlos Jobim e continuam aplaudindo o talentoso e afinado guitarrista e intérprete João Gilberto, longe da ruidosa torcida brasileira.
. O que os atrai é o ritmo, a cadência da bossa nova que, embora ungido pelo balanço do jazz, não perdeu sua origem auriverde. Apenas a requintou.
. Esse traquejo os nipônicos não possuem, ou não fazem o menor esforço para conseguirem.

. Um compositor japonês lastimava a existência de um abismo desunindo a moderna música japonesa e a antiga.
. Bem, não conheço abismos infindáveis. Por mais profundos que sejam, as superfícies apartadas estão ligadas em sua base.
. Culturalmente, sob muitos aspectos, o Japão do pós-guerra não mudou, renasceu. Em se tratando de música, não há conexão entre o novo e o velho. Eles cortaram as raízes da sua tradição milenar e alojaram, embora capengantes, no preceito americano.
. A apresentadora de TV, Akiko Wada, famosa no arquipélago, que interpreta canções tidas como modernas, não oculta a repulsa que sente pelo "enka", a tradicional melodia venerada por idosos. E atribui sua paternidade musical a dois ceguinhos geniais: Ray Charles e Steve Wonder.
. Por falta de referências, denomino os contestadores do timbre de Akiko Wada como "ukigussa generation" (geração flutuante).
. O prenúncio da globalização sacudiu o mundo. Ídolos como Elvis Presley ou James Dean ainda comovem os saudosistas. No Japão, não houve influência, mas adoção.
. É curioso escoltar os progressos da canção japonesa que antes continha versos quilométricos. Eles foram sendo reduzidos, buscando-se a essência das idéias concebidas.
. Mas em vez de difundir os padrões estéticos da melodia herdada dos antecessores, fizeram o inverso e tornaram-se prolixos. As estrofes foram esticadas num arremedo das longas canções alienígenas que mantiveram o hábito dos trovadores de encadear múltiplas situações para colorir o tema principal.
. Como toda imitação, perdeu-se a espontaneidade que emana, por exemplo, do comprido mas sublime Imagine de John Lenon.

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