segunda-feira, 10 de novembro de 2008

MANDIOCAS E VELHACOS

Oi, pessoal:
. Faço uma pausa para trancrever uma crônica que escrevi em 1998, quando ainda possuía senso de humor, e faz parte da série "Meu Filho Caubói".
. Construí minha casa num cantinho de terreno de 32x40m e sobrou espaço para horta. A minha mulher teve uma idéia opaca (suas idéias nunca são luminosas) e pediu para o caseiro, "seu"João,
plantar mandioca (Epa!).
. -Vamos comer cochinhas o ano inteiro - prometeu. O mandiocal ficou lindo, com as lagartas tomando porre.
. Naquele tempo, o amigão do meu filho Stefan era um negrinho tão negrinho que todos o chamavam de Pretinho.
. Um dia, minha mulher que mascateava roupas voltou para casa e viu Stefan e Pretinho dividindo um bolo de dinheiro. Do lado havia uma carriola com uma balancinha antiga, daquelas que a gente bota o peso de uma banda, que o verdureiro tinha emprestado.
. Os dois abriram um largo sorriso e Stefan explicou satisfeito:
. -Foi legal, mãe. A mulheirada lá da vila falava assim: traz mais, traz mais, pode trazer o quanto quiser que nóis compra tudo. Pena que acabou.
. Minha mulher arrepiou e foi espiar o mandiocal. No terreno todo cavoucado não havia restado um único pé de pé.
. Ninguém comeu coxinha naquele ano.
. Os negócios do Stefan nunca davam prejuízo para ele, pois só usava material dos outros.
. Apareceu um velho boiadeiro querendo levar a bicicleta velha da caçulinha Tatá e o meu televisor antigo com o transformador. Explicou que tinha autorização do vaqueiro japonês pequenininho.
. Minha mulher enfrentou o facínora de vassoura em punho. Xingou o boiadeiro de corruptor abominável, desalmado, explorador de criancinhas, daí pra baixo. A baixinha é valente, pois não é qualquer uma que consegue ser mãe do Stefan.
. O velho boiadeiro tinha uma paciência incrível. Levou duas horas para convencer minha mulher de que fora uma troca justa. O toquinho de vaqueiro tinha ficado com o seu belíssimo alazão. A saliva da minha mulher secou e ele foi embora com as tranqueiras.
. Daí a pouco o vaqueiro japonês miudinho apareceu arrastando um pangaré moribundo. Dizem que de cavalo dado não se olham os dentes. Mas como era na base da troca, minha mulher olhou. Não havia nenhum.
. As condições do acordo eram de que se o boiadeiro viesse sozinho e conseguisse amansar a fera (minha mulher), pegando o bagulho, negócio fechado.
. A permuta de trastes foi um acordo de velhacos. Se de um lado o velho boiadeiro entregou um matuzalém eqüino cuja idade só Deus sabia, as rodas da bicicleta da caçulinha eram quadradas de tanto o Stefan fazer cavalo-de-pau e no meu televisor antigo só entrava chuvisco. A única coisa útil era o transformador barato.
. Fiquei rezando para que o Stefan não tentasse montar o pangaré, pois o monstrengo pré-histórico podia desabar e bater os cascos ali mesmo, no meu quintal.
. Mas Stefan conseguiu trocá-lo por um par de botinas.

2 comentários:

Edeniuza disse...

Gosto demais de coisas que me fazem rir, ainda mais assim de manhã. Demais! Posso imaginar as cenas descritas e esse Stefan é bom demais.

Anônimo disse...

Passando para ler seus textos gosto muito de tudo que escreve. abraços
Cristina