domingo, 9 de novembro de 2008

UM EMBARAÇOSO APELIDO

. Meu primo Inácio Tanaka, um virtuose, soprava com rara destreza a sua gaita-de-boca. Conseguia extrair do pequeno instrumento um som prodigioso, apezar de nunca haver estudado música.
. Eu também gostava de tocar uma gaitinha e era uma catástrofe. Mas jovem, presumido, invejoso, deixei de elogiá-lo, embora no íntimo, reconhecesse sua inegável supremacia. Meu primo dispunha, além da destreza e sensibilidade, de um ouvido excepcional e aptidão inata para dominar a escala musical. Além dele, só conheço pessoalmente um com esse invulgar atributo. É o Francisco Binhardi, "Tuti", secretário executivo da Prefeitura de Bastos.
. Li na revista VEJA, há muito tempo, um artigo afirmando que apenas um em cada cem indivíduos possui esse dom. É óbvio que, com estudo e treinamento, é possível adestrar os sentidos. Mas de forma inata, mesmo entre grandes compositores da música clássica, poucos desfrutam desse atributo. Se não me engano VEJA citou apenas Mozart e Schubert. No Brasil, o acordeonista Hermeto Pascoal é um deles.
. Inácio faleceu prematuramente, antes que eu tivesse a chance de enaltecer seu talento.
. Aprendi com isso a deixar o orgulho de lado e ser humilde o suficiente para reconhecer de imediato a virtude alheia.
. Mas, talvez devido ao meu aspecto de rábula desleixado, muitos me chamam pela alcunha incômoda de "mestre", o que torna as coisas difíceis.
. Quando estive em Rondônia, o então jovem Seiki Zakimi, cunhado do meu grande amigo Wilson Modro, o Alemão, quis que lhe ensinasse a pintar. Olhei para as obras de Seiki e fiquei arrepiado. Sua habilidade, naturalmente adquirida, era incrível. Ele manipulava as cores com invejável equilíbrio, como um inspirado Toulouse-Lautrec.
. - Não posso ensinar para quem é melhor que eu - observei.
. Seiki ficou ofendido, achando que estava sendo esnobado e eu não tinha interesse em orientá-lo.
. Recentemente, fiz uma observação sobre a genialidade de Vincent Van Gogh e ganhei um admirador chamado Koz no orkut. Através do Koz, conheci, ainda pela internet, o Rildo.
. Rildo é o pintor que não consigo ser. Seus traços possuem vigor e dinâmica e há determinação e firmeza nas cores que utiliza, característica de um bom artífice. Pois está difícil convencê-lo de que seus trabalhos são bem melhores que os meus.
. Para confundir ainda mais, o agora já velho amigo Dante Asakawa, cinquentão de Toyohashi, me chama de guru, diretor de super 8. Trata-se de uma bem humorada gozação que só meia dúzia de amigos da sua idade vão entender.
. Vai causar perplexidade para os demais.
. A propósito, Dan, filho da minha saudosa professora do jardim-de-infância, dona Harue Matsumoto, acha que possui o charme de Brad Pitt, pelo que espiei no orkut.
. Pois, comparado a ele, o feioso Charles Bronson é um galã e tanto.

Um comentário:

Marco Antonio disse...

Apesar de não aceitar, Yosimaro Sakita é verdadeiramente um Mestre. Seus sábios conhecimentos, sua maneira de interpretar o dom das pessoas até pelo olhar, o torna uma pessoa diferente e por isso, quem o conhece, o respeita pois sabe de sua capacidade incontestável em tudo, na escrita, nas artes, nos julgamentos, na pintura de seus quadros, em suas crônicas e reportagens já veiculadas na mídia nacional... enfim, Yosimaro é uma fábula, um gênio, o mestre dos mestres. Parabéns é pouco a esse magnífico ser humano.