sexta-feira, 6 de março de 2009

A VAIDADE PURA

. Quando a minha neta Juju era miúda, andava toda exibida, de bracinho erguido, ostentando um anelzinho de bijuteria.
. - Tão novinha e já é vaidosa - comentava minha mulher, com ternura.
. Que bom seria, ponderei, se a Juju conseguisse preservar essa vaidade pura e transparente.
. A vaidade cristalina é quase uma virtude, pois nos estimula almejar o melhor, embora satisfeitos com o que já temos.
. A vaidade, por si só, não ofende nem machuca.
. O que turva a vaidade é o critério comparativo, aquele sentimento nocivo que o ser humano vai assimilando à medida em que se torna adulto.
. Adquirida a noção do confronto, o anelzinho barato, tão bonito, se torna feio no exato momento em que alguém ostenta um mais caro, legítimo. O anelzinho continua igual, mas a cabeça muda.
. No relato infantil, a madastra da Branca de Neve pergunta: "Espelho, espelho meu, há alguém mais bela do que eu?". O tumulto começa por aí.
. A vaidade comparativa anda de mãos dadas com a inveja. Se o pretencioso, por mais imodesto que seja, é no máximo um chato, o invejoso causa danos aos seus semelhantes.
. A inveja é um sentimento parasita. Para que ela brote, é preciso que haja sempre o outro lado. Ninguém tem inveja de si mesmo.
. Vez por outra, constatamos que até mesmo o modesto é vaidoso, pois tem orgulho da sua vaidade.
. Não sendo concebível repelir a vaidade, procuremos mantê-la isolada na sua pureza e veremos que o anelzinho permanece lindo, sem ser ofuscado por um outro, mais caro, autêntico.
. Feliz é aquele que consegue dizer de coração: são dois belíssimos anéis, a bijuteria e o legítimo.
. Mas então surge a pergunta. O que seria do mundo sem as comparações? É confrontando que escolhemos o melhor.
. Tudo bem. Nesse caso, fatores como o bom senso e a razão, diluem a vaidade. Sem lógica, não há equilíbrio nas disputas.
. Sufocada a vaidade, podemos utilizar outro parâmetro: a genuína competividade.
. No esporte, por exemplo, o verdadeiro atleta é o que vence, não o que derrota os oponentes.
. Quem compete para vencer, na falta de adversários capazes, luta para se superar. O competidor que se satisfaz humilhando os antagonistas, por mais forte que seja, só produz conforme as circunstâncias.
. Todo competidor é basicamente vaidoso. Mas quem busca a vitória, usa a eventual derrota como alavanca. Quem adora derrotar os outros, quando perde, desiste.
. Sabiamente nutrida, a vaidade é o degrau da fama e da fortuna.

2 comentários:

Yabai disse...

muito lindo o texto Yoshimaro-san!

O senhor escreve com a mesma destreza que desenha.

imagino por tudo que passou em sua vida para chegar a esse nível!

^^

Sucesso!

Ella Fachin disse...

O ser humano é engraçado e complicado...tudo na vida poderia se mais fácil se nós adultos nos tornassem pessoas com a ingenuidade das crianças!

Abraço Yoshimaro!
Ela Fachin
*-*